Como Resolver o Trilema das Blockchains: A Busca Pela Perfeição
Blockchains perfeitas não existem!
As criptomoedas são uma das tecnologias mais revolucionárias dos tempos modernos, afinal, assim como no passado a religião se separou do Estado, iniciaram um interessante movimento de separação entre dinheiro e Estado.
Muitos comparam as criptomoedas, inclusive, com a própria internet.
Contudo, não há como falar de criptomoedas e não mencionar blockchain, a tecnologia que guia esse ecossistema.
Se não existisse blockchain, muito provavelmente criptomoedas também não existiriam, ou seriam de um modo muito diferente do que conhecemos hoje.
Entretanto, nem mesmo blockchains conseguem ficar livres de seus próprios desafios, e o maior desafio dessa tecnologia ficou conhecido por: “o Trilema da Blockchain”, um problema que até hoje não temos uma resposta certa…
O Trilema das Blockchains
O trilema das blockchains é um conceito que surgiu na comunidade de criptomoedas e se refere ao desafio de uma blockchain alcançar simultaneamente três objetivos cruciais: segurança, escalabilidade e descentralização.
A comunidade cripto acredita que a "blockchain perfeita” seria aquela que conseguisse alcançar sucesso em cada um dos três pilares acima mencionados.
Não me leve a mal, grande parte das blockchains relevantes hoje em dia conseguem alcançar um ou dois desses pilares, mas a dificuldade, no entanto, é encontrar o ponto de equilíbrio entre os três.
Ou seja, atualmente, a maioria das blockchains do universo cripto coexiste em uma medida de segurança, descentralização e escalabilidade, mas, via de regra, dois pilares são priorizados, enquanto um deles acaba sendo prejudicado.
Descentralização
Para ser breve, podemos simplificar e dizer que a descentralização se refere à transferência de controle ou dispersão de poder para fora de um ente centralizado.
Nos sistemas tradicionais de armazenamento de dados, estamos acostumados com a existência de entes centralizados, como no ICloud, Google Cloud, AWS, etc…
Isso significa que as empresas por trás desses produtos possuem total controle dos seus servidores. E outras empresas que utilizam esses produtos (porque não têm servidores próprios), acabam dependendo e confiando no serviço dessa primeira.
Por essa razão é que, as vezes, vemos notícias sobre aplicativos e/ou instabilidades nesses sistemas, afinal, um "pequeno” erro pode levar à uma queda total na rede (prejudicando não só as empresas por trás desses servidores, mas também outras que utilizam o serviço), como já vimos algumas vezes no passado:
Agora, quando falamos em blockchain, nos referimos a um modelo mais descentralizado por natureza.
Essa descentralização de blockchains busca dar poder às pessoas ao redor do mundo para deterem parte do controle da rede usando seus computadores/máquinas em vez de ter um controle centralizado nas mãos de uma empresa (como o Google, Apple ou Amazon).
Essa descentralização é de grande importância, pois uma blockchain descentralizada é capaz de funcionar por si só, ou seja, não há necessidade de uma autoridade central para controlar o que acontece dentro da rede.
Isso elimina a necessidade de confiar em uma única entidade central e proporciona mais segurança e transparência, já que todas as informações da rede são verificadas e validadas pelos participantes da rede, em vez de uma autoridade central.
Da mesma forma, a descentralização permite que um sistema de armazenamento de dados seja mais resistente a ataques externos e censura, já que, por exemplo, se um dos "servidores” for atacado, não prejudica aquele sistema como um todo, pois outros "servidores" ainda estarão de pé, tornando-a uma ferramenta poderosa para a proteção da privacidade e segurança de dados em todo o mundo.
Como a imagem mostra acima, um sistema centralizado depende de um único ente central, que é responsável por garantir o funcionamento de todos os outros sistemas, aplicativos e dados. Já em um sistema descentralizado, essa dependência é inexistente, se um dos entes desaparecer, os outros ainda estarão de pé e poderão garantir a integridade daquele sistema.
Claro que é muito simples na teoria:
Mas, quando falamos em descentralização, muitos defendem que estamos nos referindo a um espectro, e não uma questão binária (de sim ou não), onde existem sistemas mais centralizados do que outros, que se situariam entre os dois extremos:
Além disso, quando falamos em descentralização de blockchains, também temos que tomar em conta uma série de fatores e variáveis possíveis, como o número de validadores, a distribuição geográfica desses, o número de desenvolvedores, etc.
Algo muito comum no ecossistema web3 é blockchains mais "jovens" serem mais centralizadas do que as mais "velhas", por uma série de fatores, como distribuição de tokens, engajamento e existência de uma comunidade forte e engajada, interesse do time desenvolvendo aquele projeto, dentre outros.
Escalabilidade
O segundo pilar do trilema das blockchains é a escalabilidade, que se refere à capacidade de uma rede para lidar com uma grande quantidade de dados em um curto espaço de tempo sem comprometer a sua performance. A escalabilidade é um aspecto crucial para o sucesso de uma blockchain, pois permite o que sempre sonhamos em cripto, a adoção em massa.
Existem várias maneiras de alcançar a escalabilidade de uma blockchain. Por exemplo, reduzir o número de validadores necessários para validar uma transação (o que pode afetar a descentralização da rede).
No entanto, muitas vezes, o foco na escalabilidade vem acompanhado da perda de equilíbrio entre os outros pilares, segurança e descentralização. Um exemplo disso é a rede principal do Ethereum, que possui sua escalabilidade limitada, processando cerca de 20 transações por segundo. Com o aumento da demanda por transações na rede Ethereum, houve um problema com o aumento das taxas da rede, o que mostra o trilema blockchain em ação. Isso significa que, para manter os pilares principais de descentralização e segurança, a rede Ethereum tem um limite relativamente baixo de transações por segundo, o que acaba levando muitos usuários a pagar altas taxas de rede para incentivar a priorização de sua transação.
Quando comparamos, por exemplo, a capacidade de processamento de transações de grandes blockchains com redes centralizadas, ainda estamos muito para trás (apesar de vermos muito se desenvolvendo nesse sentido):
Segurança
O terceiro, e último, pilar é a segurança, que, em resumo, se refere à habilidade de uma rede de proteger os dados e informações contidos nela de diferentes tipos de ataques.
A segurança é crucial para uma blockchain, já que garante a confiança na rede, impedindo, por exemplo, a manipulação de dados.
Embora as blockchains sejam consideradas mais seguras do que outros sistemas de armazenamento de dados, já que elas se pautam por consenso, criptografia e descentralização, elas não são imunes a ataques.
As modalidades mais frequentes de ataques são:
Ataque de 51%: Se um hacker malicioso for capaz de controlar mais da metade do poder de validação/mineração da rede, ele poderá alterar aquela blockchain e manipular as transações (Essa é uma das razões pela qual a descentralização é tão importante);
Ataque Sybil: Um ataque Sybil ocorre quando um invasor cria várias identidades falsas para controlar uma rede. Isso pode ser usado para inundar a rede com informações falsas ou para realizar atividades maliciosas, como manipulação de dados;
Cenário Atual
Agora que já perpassamos pelos três pilares do famoso trilema, você pode estar se perguntando: mas como iremos resolver isso? o que está sendo feito?
Como eu adiantei no início, ainda não temos uma solução definitiva, pelo contrário, o que vemos atualmente é diferentes projetos propondo diferentes soluções.
Por exemplo, a rede Ethereum, que está resolvendo seu problema de escalabilidade com redes de segunda camada - as famosas layer 2, como Arbitrum, Optimism, zkSync Era, etc - e também com um roadmap visando a partição de transações.
Claro que, como eu mencionei, ainda estamos em uma fase de experimentação, e diferentes blockchains podem desenvolver diferentes soluções. O importante é estar aberto e experimentando diferentes possibilidades, uma vez que, somente assim, poderemos chegar na melhor solução possível (se é que isso existirá).
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